A Visita - parte I
Perdido em pensamentos, ele olhava através das persianas verticais da janela, entreabertas para o dia lá fora. Um dia sorridente, radioso, que convidava a passeios à beira-mar e a longas preguiças nas esplanadas, a ver as mulheres bonitas a passar.
Mas não. Naquele momento, ele teria que permanecer ali. Não tanto devido aos afazeres profissionais, que os tinha, é certo, mas por outro factor, mais forte e ao qual não podia, nem devia (e não queria...) esquivar-se.
Alheado, totalmente distraído, perdia-se lá fora, imaginava-se um pássaro que pairava ao sabor das correntes de ar ascendentes, um rumo definido pelo acaso, com uma direcção indeterminada.
O telefone tocou. Sobressalto.
Fez rodar o assento da cadeira cerca de 180º e olhou para o relógio sobre a secretária. Era Ela.
Pigarreou um pouco e levantou o auscultador. Do outro lado, a voz d'Ela. Sedosa. Envolvente. Imperativa.
"Estás pronto?"
"Sim", respondeu ele, quase num sussurro, com um leve tom de ansiedade patente na voz.
"Óptimo... Ouve com atenção aquilo que quero que faças. Vai até à porta do teu gabinete e deixa lá ficar a chave; não tranques, deixa-a lá apenas. Vai lá, eu espero."
A sua excitação aumentara desde as primeiras palavras d'Ela. Ao levantar-se da cadeira, sentiu a sua dureza apenas contida pelos tecidos que o cobriam. Uma pequena tontura, certamente devida ao momento e à expectativa, fizeram-no segurar-se à parede, mas foi célere a cumprir aquela ordem. Abriu a gaveta, retirou a chave e foi colocá-la na fechadura, voltando novamente à secretária.
"Já está. Já lá deixei a chave."
"Agora põe o telefone em alta-voz e vira a tua cadeira de forma a que fiques virado para a janela, de costas para a porta."
Um pouco trémulo, premiu a tecla no telefone, pousou o auscultador e voltou-se para a janela. A Sua voz, calma mas firme, enchia agora o gabinete.
"Dentro de momentos, terás aí uma visita. Alguém entrará no teu gabinete e fechará a porta à chave. NÃO te vires. Seja em que altura for, seja por que motivo for, NÃO te vires. Se o fizeres, o jogo acaba e nunca mais ouvirás falar de mim. Percebeste?"
"Sim, percebi."
"Fui clara? Fiz-me entender?"
"Sim."
"Óptimo! Antes de começarmos, queres fazer alguma pergunta?"
"Disse-me que não me posso virar para quem cá vier. E falar, posso?"
"Tu apenas estás autorizado a falar comigo, excepto se eu te permitir que fales com quem aí estiver. Mais alguma coisa?"
"Eu conheço quem aqui vem?"
"Acho que isso é irrelevante. Última questão."
"Será que..."
Nesse momento, ouviu-se o ruído da porta a abrir-se e a fechar, breves segundos depois. Ele sentiu-se tentado a voltar-se, enquanto escutava o som da chave a trancar a fechadura e passos que se aproximavam dele. Era difícil distinguir se eram de mulher ou de homem, a alcatifa abafava-os.
"Presumo que, pelo teu súbito silêncio, a nossa companhia já tenha chegado..."
"Sim...", a sua afirmação saiu como um soluço, e ele teve de aclarar a garganta antes de voltar a falar, "entrou alguém agora mesmo"
"Óptimo... Continua de frente para a janela. Levanta-te e desabotoa as calças."
Ele hesitou, inseguro. Paralisara. Não conseguia obedecer.
De repente, a voz d'Ela soou na sala, cortando o silêncio tenso e fazendo-o estremecer.
"Eu disse-te que te LEVANTASSES E DESABOTOASSES as calças!"
(continua)
Exocet
Mas não. Naquele momento, ele teria que permanecer ali. Não tanto devido aos afazeres profissionais, que os tinha, é certo, mas por outro factor, mais forte e ao qual não podia, nem devia (e não queria...) esquivar-se.
Alheado, totalmente distraído, perdia-se lá fora, imaginava-se um pássaro que pairava ao sabor das correntes de ar ascendentes, um rumo definido pelo acaso, com uma direcção indeterminada.
O telefone tocou. Sobressalto.
Fez rodar o assento da cadeira cerca de 180º e olhou para o relógio sobre a secretária. Era Ela.
Pigarreou um pouco e levantou o auscultador. Do outro lado, a voz d'Ela. Sedosa. Envolvente. Imperativa.
"Estás pronto?"
"Sim", respondeu ele, quase num sussurro, com um leve tom de ansiedade patente na voz.
"Óptimo... Ouve com atenção aquilo que quero que faças. Vai até à porta do teu gabinete e deixa lá ficar a chave; não tranques, deixa-a lá apenas. Vai lá, eu espero."
A sua excitação aumentara desde as primeiras palavras d'Ela. Ao levantar-se da cadeira, sentiu a sua dureza apenas contida pelos tecidos que o cobriam. Uma pequena tontura, certamente devida ao momento e à expectativa, fizeram-no segurar-se à parede, mas foi célere a cumprir aquela ordem. Abriu a gaveta, retirou a chave e foi colocá-la na fechadura, voltando novamente à secretária.
"Já está. Já lá deixei a chave."
"Agora põe o telefone em alta-voz e vira a tua cadeira de forma a que fiques virado para a janela, de costas para a porta."
Um pouco trémulo, premiu a tecla no telefone, pousou o auscultador e voltou-se para a janela. A Sua voz, calma mas firme, enchia agora o gabinete.
"Dentro de momentos, terás aí uma visita. Alguém entrará no teu gabinete e fechará a porta à chave. NÃO te vires. Seja em que altura for, seja por que motivo for, NÃO te vires. Se o fizeres, o jogo acaba e nunca mais ouvirás falar de mim. Percebeste?"
"Sim, percebi."
"Fui clara? Fiz-me entender?"
"Sim."
"Óptimo! Antes de começarmos, queres fazer alguma pergunta?"
"Disse-me que não me posso virar para quem cá vier. E falar, posso?"
"Tu apenas estás autorizado a falar comigo, excepto se eu te permitir que fales com quem aí estiver. Mais alguma coisa?"
"Eu conheço quem aqui vem?"
"Acho que isso é irrelevante. Última questão."
"Será que..."
Nesse momento, ouviu-se o ruído da porta a abrir-se e a fechar, breves segundos depois. Ele sentiu-se tentado a voltar-se, enquanto escutava o som da chave a trancar a fechadura e passos que se aproximavam dele. Era difícil distinguir se eram de mulher ou de homem, a alcatifa abafava-os.
"Presumo que, pelo teu súbito silêncio, a nossa companhia já tenha chegado..."
"Sim...", a sua afirmação saiu como um soluço, e ele teve de aclarar a garganta antes de voltar a falar, "entrou alguém agora mesmo"
"Óptimo... Continua de frente para a janela. Levanta-te e desabotoa as calças."
Ele hesitou, inseguro. Paralisara. Não conseguia obedecer.
De repente, a voz d'Ela soou na sala, cortando o silêncio tenso e fazendo-o estremecer.
"Eu disse-te que te LEVANTASSES E DESABOTOASSES as calças!"
(continua)
Exocet